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O que os pacientes querem saber

A completa adesão ao tratamento somente pode ser atingida quando o paciente com Artrite Reumatoide (AR) esclarece suas dúvidas e consegue entender o plano de gerenciamento de sua doença.

O intervalo entre uma consulta e outra é repleto de dúvidas, que muitas vezes os pacientes não esclarecem com o reumatologista por considerá- -las simples ou pela vergonha de falar certos assuntos. Algumas dúvidas interferem diretamente no tratamento. O maior exemplo está ligado ao medo dos efeitos colaterais dos medicamentos, como o metotrexato (MTX), que ganhou nas redes sociais o apelido de MtXato, devido às infortunas reações adversas e MtxDay, por ser o dia mais marcante da semana de todo paciente.

Como pacientes, sabemos que este é um medicamento muitíssimo importante, mas nem todos tem coragem de dizer ao doutor que está difícil cumprir as tarefas do dia a dia e conviver com o metotrexato. Parte desses pacientes não toma corretamente o remédio e não conta ao médico, que pode ajudá-lo no gerenciamento dos efeitos colaterais e ter a resposta terapêutica esperada, em perfeita harmonia com o MTX.

O entendimento da dor como principal sintoma da AR também pode interferir na adesão, pois alguns pacientes ainda compreendem que, quando a dor é controlada, não é preciso continuar o tratamento medicamentoso. É importante ressaltar que, muitas vezes, é preciso informar a este paciente que a doença não é somente este sintoma (dor). A artrite de fato pode ir muito além.

Outro ponto de dúvidas e até mesmo de conflito entre o paciente e seu o médico está ligado à atividade física. Alguns pacientes, ainda em 2019, apresentam grande resistência de adesão à atividade física – não como uma medida de tratamento, mas como um hábito de vida. Por isso, é fundamental que a comunicação seja clara, que as dúvidas sejam esclarecidas e que o paciente entenda que praticar exercícios não é chatice de reumatologista, é qualidade de vida e longevidade.

Confira as principais dúvidas dos pacientes com Artrite Reumatoide, esclarecidas pelo Dr. Thiago Bitar Moraes Barros – Reumatologista:

1 – Mesmo que o paciente siga corretamente o tratamento da artrite reumatoide, ele poderá ter sequelas e deformidades da doença? Se ele(a) tomar as medicações da maneira orientada pelo médico, mudar estilo de vida e se os medicamentos estiverem realmente sendo suficientes para controlar a doença, o paciente não irá evoluir com sequelas nem deformidades e terá uma vida absolutamente normal.

2 – A mulher com artrite reumatoide pode ser mãe? Existe interferência direta na fertilidade? Quais desafios podem ser enfrentados? De que forma deve acontecer o planejamento familiar dessas mulheres? Pode sim! Pacientes com artrite reumatoide têm mais problemas de fertilidade. Não se sabe claramente qual a causa: se pelo uso crônico de medicamentos ou se pela própria doença, mas as chances de gestação são menores. No entanto, isso não impede que ela engravide. É importante lembrar que algumas drogas utilizadas no tratamento da doença devem ser interrompidas muito tempo antes de se iniciar a tentativa de gestação, pois são teratogênicas ou abortivas. Por isso, também, é importante a conversa e o planejamento com o reumatologista responsável. A doença deve estar controlada e os medicamentos tem que ser adaptados. Tudo deve ser discutido nos mínimos detalhes.

3 – Porque mesmo fazendo o tratamento certinho eu tenho dores? De que forma o paciente pode auxiliar o médico a identificar pontos de dor, se eles são da artrite ou secundárias? Se a doença estiver em baixa atividade ou em remissão, o paciente não deve sentir dor. O problema é que a maioria deles apresenta, além da artrite reumatoide, outras doenças associadas: osteoartrite (artrose), sarcopenia (perda de massa muscular), fibromialgia, dentre várias outras. Por vezes, inclusive, doenças autoimunes sobrepostas podem levar o paciente a sentir dor. É importante que ele tente compreender seu corpo: perceber as articulações, os músculos, além de ficar atento às flutuações de humor e ao padrão de sono. Tudo isso pode interferir na percepção da dor.

4 – A fadiga é um mito ou um fato? Quais as estratégias para controlá-la e diminuí-la? Explique sob a ótica do reumatológica. A fadiga ocorre basicamente pelo estado inflamatório sistêmico que a doença em atividade causa. Não é lenda! É real! E pode ser bastante difícil lidar com ela. Se a artrite estiver controlada, o paciente tende a não apresentar mais fadiga. Caso isso não ocorra, outras causas devem ser consideradas, como depressão, fibromialgia, distúrbios da tireoide e hipovitaminoses.

5 – Como superar os desconfortos trazidos pelo metotrexato? Nem todo paciente que utiliza o metotrexato passa mal com ele. Mas, quando isso ocorre, as estratégias mais utilizadas são: fracionar os dias do Metotrexato (não tomar todos os comprimidos no mesmo dia), ingerir o medicamento depois de alguma refeição, aumentar a dose de ácido fólico (que normalmente é dada apenas uma vez por semana) e, por último, mas não menos importante, prescrever o metotrexato subcutâneo. Se mesmo assim o paciente continuar se queixando de mal estar ou desconforto com o Metotrexato, o reumatologista deve avaliar sua substituição por outro medicamento.

6 – É comum os pacientes relatarem medo dos tratamentos medicamentosos. Podemos confi ar nos tratamentos prescritos pelo reumatologista? Sim! Os medicamentos utilizados são muito seguros. Óbvio que efeitos colaterais ou reações adversas podem acontecer, mas são, na maioria das vezes, contornáveis. No início do tratamento, eventualmente o paciente pode se sentir inseguro com os medicamentos prescritos e procurar tratamentos alternativos. Esses sim podem trazer efeitos colaterais graves. Tratamentos não baseados em evidência científi ca devem ser desencorajados até a última instância. Infelizmente vivemos em um período de redes sociais muito perigoso, nos quais são oferecidas as mais variadas formas de charlatanismo, disfarçadas de curas milagrosas.

7 – Tenho artrite e não posso fazer atividade física. É verdade? Os exercícios podem piorar as dores? Existe uma modalidade de atividade física que seja mais indicada? Mentira! Atividade física deve ser sempre encorajada, em todos os pacientes com artrite reumatoide. Eles atenuam a dor, a infl amação e a própria doença. Qualquer atividade física, de acordo com o gosto e condição física de cada um, pode ser realizada. Pedimos que os pacientes evitem atividades como o crossfi t que, se realizada de maneira não monitorada, tem mais chances de causar lesões, eventualmente graves. Tratamentos com altas doses de vitamina D, modulações hormonais, auto-hemoterapia e fi toterapias oferecem risco de evolução desfavorável à doença e grandes chances de sequelas – e até mesmo de morte.

8 – A decisão do tratamento deve ser compartilhada, mas a responsabilidade sobre ele deve ser entendida apenas como do médico? Ou o paciente deve ser responsável pelo sucesso de seu tratamento? Com certeza o paciente também é responsável pelo sucesso do seu tratamento. Tomar os medicamentos da maneira orientada pelo médico e mudar hábitos de vida (perder peso, melhorar alimentação, cessar tabagismo, praticar atividade física) é fundamental para obtenção da remissão da doença – hoje em dia já está bem claro que apenas tomar os medicamentos não é sufi ciente para evitar que ela avance!

Parceria médico/paciente é sempre a melhor solução para o controle da artrite reumatoide.


  • Perguntas realizadas por pacientes no blog Artrite Reumatoide e organizadas por:
  • Priscila Torres
  • Paciente com Artrite Reumatoide há 13 anos. Jornalista, autora do Blog
  • Artrite Reumatoide. Coordenadora de advocacy e responsabilidade social
  • do Grupar-RP, Grupo EncontrAR, Biored Brasil e Blogueiros da Saúde.

  • Perguntas respondidas por:
  • Dr. Thiago Bitar
  • Médico reumatologista pela USP e Sociedade Brasileira de Reumatologia.
  • Médico do NARe do Hospital Sírio Libanês.