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CAPITA L REUMATO
é persistente mas não tem nenhum processo inflamatório evidente, como
ocorre na dor nociplástica. Este fato é no mínimo preocupante quando
acontece dentro de uma especialidade que deveria acolher e otimizar o
controle das dores musculoesqueléticas que são altamente prevalentes na
população.
E por que isso acontece? Não é difícil supor. A avaliação, diagnóstico e
tratamento da dor são extremamente complexos e difíceis para o médico
assistente.
DIFICULDADES RELACIONADAS à AVALIAçãO CLÍNICA
A avaliação correta do paciente com dor crônica exige tempo,
disponibilidade, empatia e escuta qualificada. Sabemos que o fenômeno
doloroso é altamente subjetivo e sofre fortes influências dos fatores
psicossociais mas não fomos adequadamente treinados na abordagem
destes aspectos. Pelo contrário, a formação e educação médica continuada
em suas diversas formas ainda priorizam a objetividade, a racionalidade e
a tomada rápida de decisões. Tudo isso com foco nos aspectos puramente
biológicos.
Os pacientes com dor crônica são reiteradamente rotulados pelos
próprios profissionais da saúde. Segundo estudo interessante de Castelhano
LM (2015), os médicos, por exemplo, tendem a classificar os pacientes como
“difíceis” quando demandam mais do seu tempo, causam frustração e
irritação em quem está prestando o atendimento ou quando não conseguem
identificar uma causa para o problema. Ou seja, fatores inerentes ao próprio
médico podem dificultar ainda mais o seguimento destes pacientes.
Isso pode ser agravado pelo número alarmante de profissionais da
saúde com jornadas excessivas de trabalho, pouco descanso e quadros de
burnout estabelecidos. Será que as alterações psíquicas dos profissionais
que fazem o atendimento influenciarão sua maior ou menor disposição para
atender pessoas com dor crônica? Este tema merece uma discussão a parte.
Além disso o fator tempo de atendimento é com frequência relatado
como um limitador para uma adequada avaliação destes pacientes. Como
abordar os pacientes com alta carga emocional ou distúrbios psiquiátricos
concomitantes no cenário das múltiplas tarefas que precisamos cumprir
durante um atendimento?
DIFICULDADES RELATIVAS à AVALIAçãO COMPLEMENTAR
Não dispomos de biomarcadores ou outros testes objetivos para
mensuração da dor. Os exames complementares atualmente disponíveis
podem confundir ao invés de ajudar, vide as nossas conhecidas “protrusões
discais” e outros achados de imagem de ressonâncias magnéticas de coluna
desprovidas de significado clínico na maioria dos casos.
Ilustração: Anna Valéria Assad Maia
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